A influência de Joan Amos Comenius vai muito além de criar um método de ensino. Sua ideia mais radical é a concepção de que o ensino deve ser estendido a todos. Seu pensamento era muito avançado para a época, pois pregava que não deveria haver distinção social ou de gênero, colocando a educação como um valor universal. Notória é a sua defesa de que as mulheres devem ser educadas assim como os homens! Imaginem uma ideia tão avançada como essa no século XVII. Ele não foi o primeiro a defender esse preceito, pois não podemos esquecer a defesa pela educação das mulheres que Platão faz no livro VI da República.
Sua obra se ampara na sua
formação religiosa, protestante, e suas ideias são fundamentadas através de
passagens bíblicas. Desse modo, seus argumentos se tornam convincentes para a
sociedade europeia da época, dividida entre católicos e protestantes. A
universalização da educação seria, portanto, coerente com o projeto divino,
cuja finalidade é a felicidade do homem. Através da noção de sabedoria,
encontrada em vários momentos dos textos sagrados e da habilidade de Cristo de
ensinar, demonstra ao leitor que aprender faz parte dos planos de Deus (2001,
p. 81).
Para Comenius, a principal
finalidade da educação é a humanização. A aquisição de conhecimentos seria um
dos mecanismos mais eficientes para acalmar os apetites violentos dos seres
humanos. Antes mesmo de Rousseau, Comenius aponta para o fato de que a educação
deve ser iniciada na infância e atravessar todo o período de formação, até que
o infante se torne adulto. Sua concepção de educação é totalizante, ou seja,
educar não deve se restringir apenas à arte de transmitir conhecimentos, mas é
a responsável pelo desenvolvimento moral do indivíduo. Educar é, portanto, mais
que ensinar e, neste sentido, critica as práticas de ensino que exercitam a
memória, com a finalidade de que os discípulos ou alunos apenas repitam ideias
sem compreendê-las ou senti-las. Mais que isso, a educação deve levar à
produção do conhecimento e não se restringir a uma mera repetição.
Além da universalização do ensino, outro aspecto importante da obra de Comenius é a afirmação de que a criança deve ser educada na escola. Mais adiante discutiremos a criação do espaço escolar e retomaremos alguns aspectos da preocupação de Comenius. Por ora, basta lembrar que educar ainda era, no século XVII, fruto de uma iniciativa particular, dos interesses burgueses, e a maior parte dos jovens eram educados em casa e por tutores, padres ou filósofos. Para Comenius, a escola abrigaria a todos, independentemente de suas origens, e através dela iria se realizar a igualdade dos homens perante Deus.
O terceiro aspecto fundamental de
sua obra é do papel que deve desempenhar a disciplina. Embora admita que o
ensino deva ser organizado em classes como faziam os jesuítas, recrimina a
disciplina rígida por eles empregada. Conforme o princípio empirista, a criança
deve se acostumar à escola, por isso, quando pequena, deve passar apenas uma
pequena parte do dia na escola e esta deve ser agradável a ela. Aprender deve
ser então semelhante a brincar. Nesse sentido, Comenius antecipa as práticas
que serão defendidas no século XIX por Froebel. Supõe, portanto, que devem ser
desenvolvidos materiais especiais para o trato das crianças, que as façam passar
dos conteúdos mais fáceis aos mais difíceis de modo tranquilo e sem violência.
A tese de Comenius é precursora de inúmeras lutas que defendemos hoje e que podem ser resumidas pela palavra inclusão. O filósofo inicia o debate sobre aplena extensão do direito à educação.
Fonte: Aula 01 - Fundamentos da didática primeiros pensadores (UFERSA – Letras)