Se às vezes digo que as
flores sorriem
E se eu disser que os rios
cantam,
Não é porque eu julgue que há
sorrisos nas flores
E cantos no correr dos
rios...
É porque assim faço mais
sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente
real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me
lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de
sentidos...
Não concordo comigo mas
absolvo-me,
Porque só sou essa coisa
séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não
percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem
nenhuma.
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)